É uma história que agrada muito às crianças. Então, se você é "mamãe" ou "papai", sugiro que leia para seu filho fazendo da leitura um momento de amor, proximidade e carinho.
O Novelo de Lã
Era uma vez um jovem menino que morava ao lado de uma linda floresta. Todos os dias, o menino passeava palas trilhas da floresta, juntando pedrinhas e colhendo sementes.
Um dia, saiu bem cedinho de casa e seguiu uma das mais longas trilhas. No entanto, dias atrás, uma forte tempestade havia derrubado muitas folhas que acabaram encobrindo o caminho e o menino acabou se perdendo. Tentando encontrar o caminho de volta, sem perceber, o menino foi entrando cada vez mais em direção ao interior da floresta, até que avistou uma casinha. Era pequena e parecia abandonada.
O menino empurrou a porta, que estava encostada, em busca de ajuda e encontrou sentada em uma cadeira, uma velha senhora. Estava bordando em um quadro um campo de flores amarelas e uma menina de vestido vermelho, cabelos longos, bem pretos e lisos.
O menino pediu licença e foi logo dizendo que estava perdido e buscava ajuda para voltar para casa. A velha levantou-se, de repente, e o menino levou um susto e esbarrou o braço em uma cesta cheia de novelos de lã. Um dos novelos caiu no chão, rodando e desenrolando. O menino tentou segurar, mas o novelo desenrolou e rolou e rolou, formando um fio de lã comprido que partia da porta da casa e atingia o horizonte, onde os olhos já não conseguem enxergar.
- Ah, me desculpe. Eu o enrolarei de novo. Mas, por favor, a senhora pode me ajudar a encontrar meu caminho de volta para casa.
- Ah, você quer voltar para casa! Preste atenção no segredo que eu lhe direi. Enrole o fio deste novelo, que você mesmo desenrolou, até o fim. Segure-o com mãos firmes e livre-se dos embaraços, sem desistir. Quando você tiver o novelo pronto entre as mãos, chegará em casa. Mas tem que terminar antes que brilhe o último raio de sol. Vamos, siga!
O menino agradeceu e partiu, enrolando o fio de lã com os dedos. Saindo da pequena casa, o fio de lã seguia uma estreita trilha cercada de árvores grandes e altas. Mais adiante, porém, o menino encontrou o primeiro nó. O fio havia embaraçado em meio a um pequeno arbusto de folhas verdes. O menino ia puxando os raminhos das plantas, livrando os pequenos laços do fio, com cuidado para não apertá-los e aumentar ainda mais o embaraço, quando ouviu alguma coisa. Ficou imóvel alguns segundos, prestando atenção. Parecia uma reclamação ou mesmo um pedido de socorro. O menino, então, deixou o novelo sobre uma pedra e andou alguns metros. Conseguiu avistar, afastando algumas folhas largas na altura de seu rosto, uma ponte de madeira quebrada e dois lobos angustiados por não conseguirem atravessá-la. Logo que perceberam o menino, os lobos vieram em sua direção.
- A ponte acabou de quebrar. Nós precisamos atravessá-la, mas é impossível. Precisamos de ajuda. Com suas mãos precisas, menino, você certamente conseguirá reconstruí-la.
O menino examinou a situação. Da pequena ponte, só havia restado um estreito tronco arredondado que atravessava o riacho. E o fio de lã seguia por cima do tronco. Realmente seria impossível para dois lobos atravessarem, mas, o menino, com cuidado certamente conseguiria.
- Eu gostaria de ajudá-los, mas, será que vocês não poderiam mudar de caminho? Eu tenho muita pressa, disse o menino.
- Oh, por favor, menino, por aqui não passa mais ninguém e nós não temos outro caminho. Nossos filhotes estão do outro lado, se não conseguirmos voltar, morrerão de fome. Pediu a mãe loba.
- Eu darei um jeito, disse o menino, esquecendo-se de si mesmo. Voltou para a trilha e começou a juntar troncos e galhos. Em pouco mais de uma hora a ponte estava refeita. Os amigos lhe agradeceram de todo o coração e seguiram seu caminho.
O menino voltou ao novelo e logo o embaraço se desfez em suas mãos. Foi caminhando, sempre enrolando o fio bem forte. Encontrou mais alguns nós, mas nenhum muito apertado ou muito difícil de se desfazer.
Logo na beira da trilha, uma árvore lhe chamou a atenção. Era muito alta e tinha um tronco bem grosso, no qual havia um buraco ovalado, que atravessava toda a espessura da árvore. O menino entrou apertadinho e atravessou por dentro da árvore, achando aquilo muito divertido e começou a brincar, atravessando diversas vezes, rindo contente e falando sozinho. Por alguns minutos, voltou a ser o menino que era, alegre, tranqüilo, sentindo somente a alegria daquele momento, sem se preocupar com nada.
De repente, um piado muito estranho soou por entre as folhas da grande árvore. O menino ergueu a cabeça e, logo no primeiro galho, avistou um pássaro amarelo com o biquinho avermelhado. O menino começou a assobiar para ver se o pássaro repetia, mas ele só piava, um piado triste e desanimado.
- Eu não sei cantar, disse o pássaro, com voz triste. Aqui na floresta, têm milhares de outros pássaros que cantam as mais lindas melodias. Mas, eu não consigo. Eu cantava, quando era pequeno, mas vendo outros pássaros que cantavam melhor do que eu, acabei parando de cantar para ouvi-los e agora não consigo mais cantar.
- Ora, você é um pássaro. Certamente voltará a cantar. Vamos, tente!
Mas, o pássaro, triste, não tinha coragem nem de tentar.
- Não adianta, eu não consigo.
O menino lembrou-se de uma velha cantiga que sua mãe lhe cantava e começou a assobiá-la. A canção era tão especial e tinha uma melodia tão bela que lhe tocou o coração e uma grande inspiração lhe invadiu a alma. O pássaro começou a cantar e cantou tão bem quanto todos os outros pássaros da floresta.
O menino, alegre, despediu-se do pássaro e voltou ao seu caminho. E caminhou, caminhou, caminhou. A trilha tinha se alargado, mas os nós foram aparecendo cada vez mais. O menino começou a sentir-se cansado. Um dos nós estava difícil demais. Quanto mais o menino mexia nas alças que tinham formado, mais embaraçado ficava. Quanto mais ele puxava o fio de um lado, mais embaraçava do outro. O sol, alto, estava quente e o menino sentia-se fraco de tanta fome. Não havia encontrado na trilha uma única árvore com frutos ou sementes que pudesse comer. Apesar do tempo que corria e não parecia ser seu amigo, o menino sentou-se para descansar. Fechou os olhos e lembrou-se de uma oração que sua mãe rezava pedindo proteção ao seu anjo da guarda. Adormeceu.
Um pontinho de luz foi surgindo lentamente, bem ao lado do menino. E o pontinho foi aumentando e aumentando e ficando cada vez mais brilhante, até começar a formar uma imagem. De uma luminosidade intensa, surgiu, então, a figura de um menino, bem parecido com o menino que dormia um sono profundo e tranqüilo. Era seu anjo da guarda. Sorrindo, sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Era um som esquisito, diferente de qualquer língua, mais parecia o barulhinho de um fio de água escorrendo.
De súbito, o menino despertou. Estava com uma sensação agradável, parecia ter sonhado um sonho muito bom, mas não conseguia lembrar-se. A imagem luminosa tinha sumido. O menino continuou alguns segundos bem quietinho e escutou um barulhinho de água, um barulhinho gostoso de ouvir.
- Deve ser uma fonte, pensou.
Levantou-se e caminhou alguns passos em direção ao som e logo encontrou um fiozinho de água que escorria entre as pedras. Imediatamente, o menino lembrou-se de quando saía com seu pai para colher cogumelos. Seu pai o ensinou que estavam sempre em lugares bem úmidos. O menino abaixou-se e esfregou as mãos embaixo de alguns arbustos e pedras. Ah, encontrou, afinal, dezenas de cogumelos de todos os tamanhos, iguaizinhos aos que colhia com seu pai. E estavam deliciosos!
Com o ânimo retomado, o menino conseguiu desatar o difícil nó e retornou, então, seu caminho, com o fio de lã entre os dedos. Desatou mais alguns nós com maior ou menor dificuldade e, assim, o pequeno novelo ia crescendo.
Depois de um bom tempo de caminhada, foram surgindo mais e mais nós. Cansado e vendo o sol já próximo da linha do horizonte, o menino sentou-se em uma grande pedra redonda. O novelo parecia não terminar nunca, eram tantos os nós que o menino já sentia dor nos dedos. E se ele não conseguisse chegar antes do anoitecer? Ficaria perdido para sempre naquela floresta?
- Tenha fé. Não desanime. Falou a pedra onde estava sentado. Continue caminhando, sem pressa, somente caminhando.
O menino levantou-se e olhou para baixo. A pedra estava falando com ele? Oh, não, não era uma pedra, afinal, apareceu uma cabecinha e mais quatro patinhas. E um casco enorme balançou calmamente embaixo do menino. Era um jabuti imenso.
- Mas, eu estou o dia todo andando, desatando nós, enrolando o fio e o novelo parece não terminar nunca! Estou cansado e com medo.
- Medo? Perguntou-lhe o jabuti. Medo de que? Você não percebe que está com o fio entre os dedos! É só prosseguir. O caminho é único e o levará para casa.
- Mas, e se eu não conseguir enrolar o novelo a tempo? Estará tudo perdido.
- Ninguém lhe falou em tempo. O tempo, agora, não existe. Você deve chegar antes do último raio de sol, mas para isso não precisa pensar em tempo. Siga em frente, simplesmente siga. Procure não pensar em nada. Procure livrar-se do tempo e dos pensamentos que te afligem. Simplesmente siga.
E assim fez o menino. Continuou o caminho e desatou cada nó que apareceu sem pressa e sem deixar que seus próprios pensamentos o traíssem e o atrapalhassem.
Com o novelo nas mãos, foi enrolando o fio, enrolando, até avistar uma pequena casa, bem ao longe. E era nesta casa que o novelo parecia terminar.
- É minha casa! Gritou o menino.
Mas, depois de alguns metros, o menino parou desanimado.
- Não parece minha casa...
Foi chegando mais perto e mais e mais até perceber uma imensa semelhança com a casa da velha, dona do novelo.
Chegando à porta, o menino reconheceu cada detalhe, era mesmo a casa da velha senhora. E o fio havia terminado ali mesmo.
O menino entrou, desolado, no momento em que o último raio de sol brilhou acima de sua cabeça.
Mas, quando empurrou a porta, ficou surpreso com o que viu. Ao invés de encontrar a velha, estava em pé, à sua frente, a menina do quadro. Ela mesma, de vestido vermelho, cabelos longos, bem pretos e lisos. Mais surpreso ainda ficou quando viu o quadro em cima da mesa. Era o mesmo campo de flores amarelas, mas no lugar da menina, estava a velha, sentada em uma cadeira, bordando com uma agulha e um fio de lã entre os dedos.
A menina sorriu tranqüilamente e lhe puxou pelos braços, em direção à floresta. Em alguns minutos, o menino estava bem diante de sua casa. E lá, o último de raio de sol ainda não tinha brilhado.
Era uma vez um jovem menino que morava ao lado de uma linda floresta. Todos os dias, o menino passeava palas trilhas da floresta, juntando pedrinhas e colhendo sementes.
Um dia, saiu bem cedinho de casa e seguiu uma das mais longas trilhas. No entanto, dias atrás, uma forte tempestade havia derrubado muitas folhas que acabaram encobrindo o caminho e o menino acabou se perdendo. Tentando encontrar o caminho de volta, sem perceber, o menino foi entrando cada vez mais em direção ao interior da floresta, até que avistou uma casinha. Era pequena e parecia abandonada.
O menino empurrou a porta, que estava encostada, em busca de ajuda e encontrou sentada em uma cadeira, uma velha senhora. Estava bordando em um quadro um campo de flores amarelas e uma menina de vestido vermelho, cabelos longos, bem pretos e lisos.
O menino pediu licença e foi logo dizendo que estava perdido e buscava ajuda para voltar para casa. A velha levantou-se, de repente, e o menino levou um susto e esbarrou o braço em uma cesta cheia de novelos de lã. Um dos novelos caiu no chão, rodando e desenrolando. O menino tentou segurar, mas o novelo desenrolou e rolou e rolou, formando um fio de lã comprido que partia da porta da casa e atingia o horizonte, onde os olhos já não conseguem enxergar.
- Ah, me desculpe. Eu o enrolarei de novo. Mas, por favor, a senhora pode me ajudar a encontrar meu caminho de volta para casa.
- Ah, você quer voltar para casa! Preste atenção no segredo que eu lhe direi. Enrole o fio deste novelo, que você mesmo desenrolou, até o fim. Segure-o com mãos firmes e livre-se dos embaraços, sem desistir. Quando você tiver o novelo pronto entre as mãos, chegará em casa. Mas tem que terminar antes que brilhe o último raio de sol. Vamos, siga!
O menino agradeceu e partiu, enrolando o fio de lã com os dedos. Saindo da pequena casa, o fio de lã seguia uma estreita trilha cercada de árvores grandes e altas. Mais adiante, porém, o menino encontrou o primeiro nó. O fio havia embaraçado em meio a um pequeno arbusto de folhas verdes. O menino ia puxando os raminhos das plantas, livrando os pequenos laços do fio, com cuidado para não apertá-los e aumentar ainda mais o embaraço, quando ouviu alguma coisa. Ficou imóvel alguns segundos, prestando atenção. Parecia uma reclamação ou mesmo um pedido de socorro. O menino, então, deixou o novelo sobre uma pedra e andou alguns metros. Conseguiu avistar, afastando algumas folhas largas na altura de seu rosto, uma ponte de madeira quebrada e dois lobos angustiados por não conseguirem atravessá-la. Logo que perceberam o menino, os lobos vieram em sua direção.
- A ponte acabou de quebrar. Nós precisamos atravessá-la, mas é impossível. Precisamos de ajuda. Com suas mãos precisas, menino, você certamente conseguirá reconstruí-la.
O menino examinou a situação. Da pequena ponte, só havia restado um estreito tronco arredondado que atravessava o riacho. E o fio de lã seguia por cima do tronco. Realmente seria impossível para dois lobos atravessarem, mas, o menino, com cuidado certamente conseguiria.
- Eu gostaria de ajudá-los, mas, será que vocês não poderiam mudar de caminho? Eu tenho muita pressa, disse o menino.
- Oh, por favor, menino, por aqui não passa mais ninguém e nós não temos outro caminho. Nossos filhotes estão do outro lado, se não conseguirmos voltar, morrerão de fome. Pediu a mãe loba.
- Eu darei um jeito, disse o menino, esquecendo-se de si mesmo. Voltou para a trilha e começou a juntar troncos e galhos. Em pouco mais de uma hora a ponte estava refeita. Os amigos lhe agradeceram de todo o coração e seguiram seu caminho.
O menino voltou ao novelo e logo o embaraço se desfez em suas mãos. Foi caminhando, sempre enrolando o fio bem forte. Encontrou mais alguns nós, mas nenhum muito apertado ou muito difícil de se desfazer.
Logo na beira da trilha, uma árvore lhe chamou a atenção. Era muito alta e tinha um tronco bem grosso, no qual havia um buraco ovalado, que atravessava toda a espessura da árvore. O menino entrou apertadinho e atravessou por dentro da árvore, achando aquilo muito divertido e começou a brincar, atravessando diversas vezes, rindo contente e falando sozinho. Por alguns minutos, voltou a ser o menino que era, alegre, tranqüilo, sentindo somente a alegria daquele momento, sem se preocupar com nada.
De repente, um piado muito estranho soou por entre as folhas da grande árvore. O menino ergueu a cabeça e, logo no primeiro galho, avistou um pássaro amarelo com o biquinho avermelhado. O menino começou a assobiar para ver se o pássaro repetia, mas ele só piava, um piado triste e desanimado.
- Eu não sei cantar, disse o pássaro, com voz triste. Aqui na floresta, têm milhares de outros pássaros que cantam as mais lindas melodias. Mas, eu não consigo. Eu cantava, quando era pequeno, mas vendo outros pássaros que cantavam melhor do que eu, acabei parando de cantar para ouvi-los e agora não consigo mais cantar.
- Ora, você é um pássaro. Certamente voltará a cantar. Vamos, tente!
Mas, o pássaro, triste, não tinha coragem nem de tentar.
- Não adianta, eu não consigo.
O menino lembrou-se de uma velha cantiga que sua mãe lhe cantava e começou a assobiá-la. A canção era tão especial e tinha uma melodia tão bela que lhe tocou o coração e uma grande inspiração lhe invadiu a alma. O pássaro começou a cantar e cantou tão bem quanto todos os outros pássaros da floresta.
O menino, alegre, despediu-se do pássaro e voltou ao seu caminho. E caminhou, caminhou, caminhou. A trilha tinha se alargado, mas os nós foram aparecendo cada vez mais. O menino começou a sentir-se cansado. Um dos nós estava difícil demais. Quanto mais o menino mexia nas alças que tinham formado, mais embaraçado ficava. Quanto mais ele puxava o fio de um lado, mais embaraçava do outro. O sol, alto, estava quente e o menino sentia-se fraco de tanta fome. Não havia encontrado na trilha uma única árvore com frutos ou sementes que pudesse comer. Apesar do tempo que corria e não parecia ser seu amigo, o menino sentou-se para descansar. Fechou os olhos e lembrou-se de uma oração que sua mãe rezava pedindo proteção ao seu anjo da guarda. Adormeceu.
Um pontinho de luz foi surgindo lentamente, bem ao lado do menino. E o pontinho foi aumentando e aumentando e ficando cada vez mais brilhante, até começar a formar uma imagem. De uma luminosidade intensa, surgiu, então, a figura de um menino, bem parecido com o menino que dormia um sono profundo e tranqüilo. Era seu anjo da guarda. Sorrindo, sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Era um som esquisito, diferente de qualquer língua, mais parecia o barulhinho de um fio de água escorrendo.
De súbito, o menino despertou. Estava com uma sensação agradável, parecia ter sonhado um sonho muito bom, mas não conseguia lembrar-se. A imagem luminosa tinha sumido. O menino continuou alguns segundos bem quietinho e escutou um barulhinho de água, um barulhinho gostoso de ouvir.
- Deve ser uma fonte, pensou.
Levantou-se e caminhou alguns passos em direção ao som e logo encontrou um fiozinho de água que escorria entre as pedras. Imediatamente, o menino lembrou-se de quando saía com seu pai para colher cogumelos. Seu pai o ensinou que estavam sempre em lugares bem úmidos. O menino abaixou-se e esfregou as mãos embaixo de alguns arbustos e pedras. Ah, encontrou, afinal, dezenas de cogumelos de todos os tamanhos, iguaizinhos aos que colhia com seu pai. E estavam deliciosos!
Com o ânimo retomado, o menino conseguiu desatar o difícil nó e retornou, então, seu caminho, com o fio de lã entre os dedos. Desatou mais alguns nós com maior ou menor dificuldade e, assim, o pequeno novelo ia crescendo.
Depois de um bom tempo de caminhada, foram surgindo mais e mais nós. Cansado e vendo o sol já próximo da linha do horizonte, o menino sentou-se em uma grande pedra redonda. O novelo parecia não terminar nunca, eram tantos os nós que o menino já sentia dor nos dedos. E se ele não conseguisse chegar antes do anoitecer? Ficaria perdido para sempre naquela floresta?
- Tenha fé. Não desanime. Falou a pedra onde estava sentado. Continue caminhando, sem pressa, somente caminhando.
O menino levantou-se e olhou para baixo. A pedra estava falando com ele? Oh, não, não era uma pedra, afinal, apareceu uma cabecinha e mais quatro patinhas. E um casco enorme balançou calmamente embaixo do menino. Era um jabuti imenso.
- Mas, eu estou o dia todo andando, desatando nós, enrolando o fio e o novelo parece não terminar nunca! Estou cansado e com medo.
- Medo? Perguntou-lhe o jabuti. Medo de que? Você não percebe que está com o fio entre os dedos! É só prosseguir. O caminho é único e o levará para casa.
- Mas, e se eu não conseguir enrolar o novelo a tempo? Estará tudo perdido.
- Ninguém lhe falou em tempo. O tempo, agora, não existe. Você deve chegar antes do último raio de sol, mas para isso não precisa pensar em tempo. Siga em frente, simplesmente siga. Procure não pensar em nada. Procure livrar-se do tempo e dos pensamentos que te afligem. Simplesmente siga.
E assim fez o menino. Continuou o caminho e desatou cada nó que apareceu sem pressa e sem deixar que seus próprios pensamentos o traíssem e o atrapalhassem.
Com o novelo nas mãos, foi enrolando o fio, enrolando, até avistar uma pequena casa, bem ao longe. E era nesta casa que o novelo parecia terminar.
- É minha casa! Gritou o menino.
Mas, depois de alguns metros, o menino parou desanimado.
- Não parece minha casa...
Foi chegando mais perto e mais e mais até perceber uma imensa semelhança com a casa da velha, dona do novelo.
Chegando à porta, o menino reconheceu cada detalhe, era mesmo a casa da velha senhora. E o fio havia terminado ali mesmo.
O menino entrou, desolado, no momento em que o último raio de sol brilhou acima de sua cabeça.
Mas, quando empurrou a porta, ficou surpreso com o que viu. Ao invés de encontrar a velha, estava em pé, à sua frente, a menina do quadro. Ela mesma, de vestido vermelho, cabelos longos, bem pretos e lisos. Mais surpreso ainda ficou quando viu o quadro em cima da mesa. Era o mesmo campo de flores amarelas, mas no lugar da menina, estava a velha, sentada em uma cadeira, bordando com uma agulha e um fio de lã entre os dedos.
A menina sorriu tranqüilamente e lhe puxou pelos braços, em direção à floresta. Em alguns minutos, o menino estava bem diante de sua casa. E lá, o último de raio de sol ainda não tinha brilhado.