Era uma vez uma menininha que vivia em um campo muito longe daqui. Seus pais eram agricultores, plantavam verduras, legumes e flores, os quais eram vendidos nas feiras que aconteciam a cada três dias naquele pequeno povoado.
A menininha era linda, meiga e de coração puro. O que ela mais gostava era correr entre os canteiros de flores. Tinha um canteiro de flores amarelas que ela amava. Por ele voavam borboletas, joaninhas, grilos e outros bichinhos que eram seus amigos.
Um dia, depois de ajudar sua mãe na colheita, a menina ficou passeando por um canteiro, sentindo o sol e o cheirinho doce das flores. Percebeu, bem em cima de uma das flores amarelas, uma borboleta paradinha, bem quietinha. Era a mais linda borboleta que ela já tinha visto. Tinha as asas azuis, mas um azul diferente que parecia ter sido pintado no céu. E misturado aos tons de azul, tinham mesclas prateadas, da cor das estrelas.
- Que linda borboleta, pensou a menina.
- Obrigada, mas não sou borboleta. Disse a fada, fechando as asinhas.
- Você é uma fadinha? Mas, que linda! Exclamou a menininha, batendo palmas e com os olhos emocionados.
- Sim, sou a fada das flores amarelas.
A menina sorriu um sorriso tímido, mas que parecia conter o mundo em seus lábios!
- Menina, posso lhe pedir uma ajudinha? Perguntou a fada, arrumando seu longo vestido prateado.
- Claro, o que eu não faria por uma fada?
- Tenho três estrelinhas para levar ao mar, antes do anoitecer. Não é muito longe daqui. Se você puder levá-las para mim, ficarei agradecida para sempre.
- Farei o que quiser! Gritou a menina, sentindo-se única, em receber uma missão tão especial.
A fadinha lhe deu as três estrelinhas dentro de uma pequena cesta. Que maravilha poder carregar uma estrela entre as mãos! E a menininha partiu para o lugar combinado, feliz e sorrindo e dançando pelo caminho.
Andou e andou, sempre olhando e cuidando das estrelinhas que brilhavam sem parar.
De repente, que susto! Uma árvore imensa sacudiu seus galhos, parecendo querer sair do lugar.
- Onde vai levar tantas estrelinhas? Perguntou a árvore.
- Vou levá-la ao mar, não é tão longe. Foi a fada quem me pediu.
- Ao mar? Que sorte dos peixinhos! Disse a árvore com voz triste. Ah, se você me desse uma única estrelinha eu poderia crescer, me dividir e não seria mais uma única árvore sozinha e triste.
A menina ficou comovida e pensou em como seria triste viver tão sozinha, dia e noite, sendo árvore, sempre parada.
Será que uma estrelinha a menos no mar faria tanta falta? Será que a fadinha lhe permitiria emprestar uma só estrelinha?
- Uma só, insistiu a árvore. O céu é tão grande e as fadas têm tantos poderes, não vai lhe faltar esta estrela.
A menininha olhou a cesta de estrelas e olhou para a árvore triste.
- Está bem, você não será mais triste! Eu lhe darei uma estrela. Se encontrar a fada e ela se zangar, diga-lhe que a culpa foi minha.
A menina, então, deu a estrela. A árvore, no mesmo instante, espalhou pequenas sementinhas luminosas por toda a terra e uma floresta inteira brotou bem ali, na frente da menina. E com todo o cuidado para não pisar em uma única mudinha, a menina partiu feliz por ter repartido as estrelas.
Mais adiante, ouviu um chorinho. Espiou por cima de uns arbustos e viu um lindo gavião.
- O que aconteceu? Perguntou a menina.
- Estou machucado. Acho que não poderei mais voar.
- Pobrezinho...por que? O que te aconteceu?
- Feri-me tentando fugir de uma tempestade. Um vento muito forte não me perdoou e eu acabei caindo e batendo de frente com esta pedra enorme.
- Que judiação, falou a menina inconformada.
- O que você tem aí? Perguntou o gaviãozinho.
- São estrelinhas que eu estou levando ao mar. Foi a fada das flores amarelas quem me pediu.
Estavam dentro da cesta as duas estrelinhas de um brilho intenso.
- Menininha, ouvi dizer que a luz das estrelas curam. Se você me desse uma só, umazinha só, talvez eu pudesse me curar e voltar a voar.
- Será?
A menina pensou na fada, mas vendo o gaviãozinho todo machucadinho não hesitou um minuto. Deu-lhe logo uma estrelinha.
- Se encontrar a fada e ela se zangar, diga-lhe que a culpa foi minha. Falou a menina
O gavião pegou a estrela e no mesmo instante se curou. E voou, voou livre, bem alto no azul do céu.
A menina, então, seguiu o seu caminho, feliz por ter curado o gavião. Ainda tinha uma estrelinha e, com certeza, seria suficiente para o mar, afinal, era de um brilho tão intenso e luminoso...
Mais uma caminhada e a menina sentiu que o mar estava próximo. Sentiu a brisa, sentiu o cheiro, quase ouviu as ondas. Amava o mar, amava a areia, amava brincar nas ondinhas, procurar peixinhos e catar conchinhas. E agora, estrelas brilhantes no mar! Seria mais maravilhoso ainda!
Já com os pés na areia, pertinho das ondas, um menino lhe empurrou com violência, derrubando-a no chão com a cesta e a estrelinha. Ao ver a estrela, o menino tomou-a nas mãos e saiu correndo.
- Oh, me devolva, por favor, não é para mim, é para o mar! Foi a fadinha quem me pediu, por favor, não tenho mais nenhuma... Mas, o menino nem ouviu e já estava longe de tanto correr.
As lágrimas escorreram pelo rostinho delicado da menina. Nem se deu conta do joelhinho machucado. Chorava mesmo pela estrelinha, pela fada, pelo mar.
- Por que chora tanto?
Era a fada, linda, de asinhas azuis e prateadas. Mas, desta vez usava um vestido dourado, parecia coberto por raios do sol.
- Oh, fada, me desculpe, não consegui trazer nem uma estrelinha. Não consegui cumprir minha missão. Me desculpe...
- Querida, disse a fada, não se preocupe, o que eu mais queria você trouxe. Seu coraçãozinho está cheinho de luz e esta luz é mais forte do que a luz de mil estrelinhas!